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Comportamentos automáticos

Muito se fala das dependências químicas. É natural pensarmos que uma substância como o álcool, a nicotina, alguns medicamentos e outras drogas possam levar ao vício. Porém, algo relativamente novo, que faz todo sentido neurobiológico e tem sido cada vez mais discutido na comunidade científica, são as dependências comportamentais.

Para facilitar o entendimento da questão, tomemos como exemplo inicial o dependente de nicotina. Existe de fato um componente da dependência que é químico, derivado do fenômeno de tolerância (uso da substância em quantidades cada vez maiores para obter o mesmo efeito desejado), e outro, comportamental. Este é mais ligado ao hábito do tabagista, a todo ritual que faz para fumar, desde quando compra o cigarro, quando o retira de dentro da caixa, quando risca o fósforo ou até mesmo se fuma ao acordar, tomando café ou numa pausa de trabalho. Nesses casos, medidas que visem à cessação do tabagismo só do ponto de vista químico são incompletas e fugazes em comparação às que levam em conta o aspecto comportamental.

Hoje, quero me concentrar justamente nesse aspecto comportamental do ser humano. Por que as pessoas criam alguns hábitos e tem tanta dificuldade em modificá-los? Qual o grau de consciência e controle que temos em relação a algumas atividades de nossas vidas? Diversas teorias neurocientíficas tentam explicar melhor como o cérebro age nessas situações.

De maneira geral, da mesma forma que uma substância química pode ativar o circuito de recompensa cerebral a partir do sistema límbico (vide figura), aumentando a concentração de dopamina (neurotransmissor ligado ao prazer) na fenda sináptica, alguns comportamentos também podem ativar em maior ou menor grau esse sistema. Sexo, jogos, esportes, compras são exemplos de atividades que podem desencadear esse tipo de resposta. Obviamente, uma droga como a cocaína ativa de forma muito mais rápida e intensa esse circuito, e por isso há grande possibilidade de gerar dependência no usuário, embora os comportamentos descritos acima também o façam. Qual a consequência da ativação do circuito de recompensa? Repetidas tentativas de estimular esse sistema novamente!

Outro aspecto importante para a compreensão de diferentes comportamentos, é entender o papel do córtex pré-frontal no organismo (vide figura). Evolutivamente, foi essa estrutura que possibilitou ao ser humano tomar decisões de maneira mais racional, planejar tarefas, gerenciar o tempo, pesar possíveis riscos e benefícios de diferentes ações, organizar a vida etc. Hoje, sabemos que as pessoas estão distribuidas dentro de um espectro de maior ou menor funcionalidade desse córtex. Simplificadamente, quanto menos funcional o córtex pré-frontal, mais impulsiva será a pessoa e mais dificuldade terá para controlar seus desejos. Além disso quando a emoção é ativada, as resposta da amígdalá e do sistema límbico tendem a prevalecer em relação às do córtex pré-frontal (vide figura).

Para o desejo, existem diferentes possibilidades de objetos. Você conhece alguém que compra muitas coisas sem necessidade? Alguém que faz sexo demasiadamente? Que come ou bebe compulsivamente? Já ouviu falar de jogadores de bingo ou pôquer compulsivos? E aqueles que ganharam muito dinheiro rapidamente comprando ações na bolsa de valores e perderam tudo com a mesma velocidade?

Do ponto de vista médico é minha tarefa alertar as pessoas a respeito disso. Nem sempre a calça que você comprou é exatamente o que você queria ou precisava. Essa decisão não é 100% consciente e racional. Da mesma forma, dependendo de suas características e de sua história, a decisão de comprar ou não um grupo de ações não é pautada simplesmente na razão ou em análises sólidas de mercado. Aliás, o mundo da bolsa de valores aproxima-se muito das vivências num cassino. Caso você tenha uma característica mais impulsiva, ou esteja sob forte emoção, a mesma atitude que o fez crescer, poderá ser responsável por sua queda.

Hoje em dia, temos a tendência de pensar em espectros de funcionamento. É como se houvesse uma linha contínua e gradual de intensidade que separa características normais das mais patológicas, localizadas num ponto diametralmente oposto dessa escala. Quando determinada característica é muito acentuada, causando prejuízo e sofrimento significativo, é mais fácil fazer um diagnóstico e propor um tratamento. Agora, se eu não fosse médico, mas trabalhasse na área comercial ou de marketing de uma grande empresa? As informações acima teriam alguma utilidade para aplicar na populaçãõ geral? Será que as pessoas tem plena consciência de seus atos, motivações e comportamento? Assita o vídeo abaixo - que do meu ponto de vista faz uma crítca ao ser humano - e chegue às suas próprias conclusões.

 

 

Para maiores informações sobre o Circuito de Recompensa: http://www.virtual.epm.br/material/depquim/4flash.htm

 

Fonte: Dr. Victor Bigelli de Carvalho - Médico Psiquiatra